quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Artigo - Brasil Econômico - 14/10/13

Correndo atrás do bonde da globalização

Se não quiser ficar para trás, o Brasil precisa começar a compreender melhor a globalização e a série de instrumentos que a impulsionam e a protegem. Precisa, também, se inserir rapidamente nas cadeias produtivas globais que vêm se formando nas últimas décadas.

Para buscar essa inserção, além de aperfeiçoar suas instituições, capital humano e infraestrutura, um país precisa dar garantias de que empresas que nele aloquem sua produção serão bem tratadas e poderão escoá-la favoravelmente – o que pode ser feito por meio de acordos de proteção de investimentos e de livre comércio.

Na área comercial, o Brasil apostou suas fichas em dois processos de liberalização que vêm enfrentando percalços: a Rodada Doha, que se arrasta há doze anos sem resultado, e o Mercosul, que dificulta novos acordos de livre comércio com outros países – foram só 3 desde sua criação.

Enquanto isso, a corrida mundial por acordos comerciais bilaterais e plurilaterais se intensifica. Alguns deles, muito significativos, como a Parceria Transatlântica, que vem sendo discutida entre Estados Unidos e União Europeia, a Parceria Transpacífica, abrangendo, por enquanto, Estados Unidos, Canadá, México, Austrália, Nova Zelândia, Brunei, Cingapura, Vietnã, Chile e Peru e, por fim, aqui perto, a Aliança do Pacífico, bloco fundado por Chile, Colômbia, México e Peru. Dados levantados pela OMC mostram que, até o início de 2013, surgiram 543 acordos desse tipo, dos quais 354 estavam em vigor. Pelo menos metade desse total foi assinada nos últimos dez anos – vários por países latino-americanos, como o Chile, com 21 acordos, o Peru com 12 e o México com 13.

Esses acordos se somam à ampla rede de proteção mundial com mais de 2500 tratados bilaterais que ampara o investimento externo direto. O Brasil, no entanto, assinou apenas 15 desses tratados – que ajudariam a atrair mais investimentos para nosso território, assim como a proteger os investimentos brasileiros no exterior. E, até hoje, não ratificou nenhum deles.

Apesar disso, seu formidável mercado interno leva o Brasil a se manter nos primeiros lugares do ranking mundial de atração de investimentos estrangeiros – passou da 5ª para a 4ª posição, apesar de estes terem caído 2% em 2012. E diversas empresas brasileiras têm procurado se internacionalizar – nosso estoque de investimentos no exterior já alcança US$ 230 bilhões.

Isso não significa, no entanto, que estejamos integrados às cadeias globais de valor, o que se confirma pela proporção elevada de conteúdo local de nossas exportações e pela pequena participação de bens intermediários em nossas importações. Países com obstáculos ao comércio e ao investimento estrangeiro, portos e aeroportos ineficientes, procedimentos alfandegários lentos e burocráticos, baixa proteção à propriedade intelectual, trabalhadores pouco capacitados, limitação à contratação de pessoal vindo de fora, trâmites complicados para abertura de empresas, entre outros fatores, tendem a ser excluídos dessas cadeias.

É verdade que a abertura comercial irrestrita e a movimentação de capitais desenfreada podem ter efeitos negativos. Mas isolar-se é pior. Entender a globalização é essencial para que o Brasil não fique fora das cadeias globais de valor, o que leva a perda de competitividade e redução do bem-estar da população.