sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rio+20, Balanço Final

Rio+20: Fim do Começo, ou Começo do Fim? 

A Rio+20 terminou e o sentimento final é uma mistura de indignada frustração e esperança em parte auto-alimentada, em parte real.

Indignada frustração porque, como já era esperado, nenhuma decisão importante foi tomada pelos governos, nenhum compromisso relevante foi assumido. Que governos eleitos não percebam a urgência de agir é algo que diz muito a respeito dos nossos governantes, mas diz muito também sobre nós mesmos.  É desanimador. Principalmente porque, como comentei em meu post de ontem, os governos têm um papel fundamental na promoção da sustentabilidade, apesar de todas as mudanças que fizeram deles apenas mais um dos diversos níveis de poder da governança global. Não podemos nos esquecer, no entanto, que só os Estados podem impor impostos sobre o carbono, dar incentivos fiscais aos first-movers, entre tantas outras políticas públicas que, se adotadas, dariam forte impulso ao ciclo virtuoso da sustentabilidade.

Esperança, em parte auto-alimentada, porque é preciso acreditar para seguir em frente e continuar na luta, mesmo quando o desafio parece grande demais e as probabilidades de que as coisas deem errado, assustadoras. Esperança também em parte real, porque atores hoje muito relevantes estão fazendo a sua parte e se mobilizando para que outros também o façam. Isso ficou comprovado pela forte reação da sociedade civil ao documento aprovado na conferência e por mais alguns eventos hoje realizados por entidades empresariais, como o CEBDS, que apresentou a sua Visão 2050 para o Brasil, e o Instituto Ethos, que convocou a União Global pela Sustentabilidade.

Essa onda tem grande poder de transformação. Ela ficou um pouco mais volumosa no Rio, e promete seguir avançando. Talvez seja uma ilusão achar que ela será suficiente para preencher a lacuna que a falta de capacidade dos Estados de chegarem a uma decisão nessa Rio+20 irá deixar. Talvez não. Mas como Marina Silva lembrou no lançamento da União Global pela Sustentabilidade, os governos chutaram a bola de volta para a sociedade civil e as empresas. Não nos resta outra opção senão seguir jogando. Os governos querem nos fazer acreditar que a Rio+20 é o fim do começo. Do começo do caminho rumo ao desenvolvimento sustentável. Mas somos nós que vamos ter que suar a camisa, para que ela não tenha sido o começo do fim. Do nosso fim.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rio+20, D2

"O mundo mudou, é verdade, mas os Estados continuam merecendo um puxão de orelha"

Interessante assistir a um consenso se formando. Aqui na Rio+20, esse consenso é o de que, apesar dos resultados práticos pífios da conferência, valeu a pena, porque a sociedade civil e as empresas saem daqui mais conscientizadas e mais organizadas.

Concordo plenamente. Porém, isso não significa que os Estados não mereçam um puxão de orelha pela incapacidade de estabelecer metas e assumir compromissos claros, depois de tanta discussão.
Que o poder dos Estados é hoje diluído entre diversos atores, como as empresas e as ONGs, isso é fato. Analiso esse processo, diretamente relacionado à globalização, em meu livro "A Humanidade e suas Fronteiras". Por isso mesmo, não haverá mundo sustentável sem o envolvimento desses outros atores, que são peças fundamentais da chamada governança global da sustentabilidade - que foi, inclusive, um dos temas da Rio+20. 

No entanto, os Estados também têm o seu papel a exercer, e este é fundamental, como demonstraram ao menos dois eventos da Rio+20 a que tive a oportunidade de assistir hoje.

Um deles, um "side event" do FMI no Riocentro, discutiu instrumentos fiscais e políticas públicas que podem ser adotadas para estimular a economia verde. Ora, esses instrumentos e políticas dependem dos Estados. Ainda acho que esta conferência, se tivesse escolhido como objetivo apenas discutir e avançar no tema da precificação do carbono, teria contribuído mais para o desenvolvimento sustentável do que acabou fazendo ao adotar uma infinidade de temas e não tomar decisões sobre nenhum deles.

O outro evento, uma palestra no Humanidade 2012, no Forte de Copacabana, mostra que mesmo as empresas que começaram a se preocupar com a sustentabilidade ainda precisam sofrer grandes transformações para que se possa afirmar que seus negócios são realmente sustentáveis. E essa transformação se dá pela pressão da sociedade civil e dos indivíduos, mas seria muito acelerada se contasse com a pressão dos governos, que podem forçar as empresas a adotarem mecanismos que, de fato, podem interferir em seu DNA "externalizador".

Desde muito cedo, ficou claro para todos que não se podia esperar grande coisa dos governos na Rio+20. O rascunho de declaração que deverá ser aprovado amanhã reflete essa realidade. Mas é importante que o consenso sobre a importância dos outros atores na busca do desenvolvimento sustentável não leve os Estados a serem menos cobrados. Eles precisam ser pressionados para assumir a sua responsabilidade nesse processo.

Rio+20, D1, 20/06/2012

"Pelo Rascunho Zero da Rio+20, o caminho em direção ao desenvolvimento sustentável será percorrido um passo de cada vez. Pena que talvez não dê para chegar a tempo..."


O primeiro dia “oficial” da Rio+20 acabou em frustração. Frustração pela incapacidade dos líderes mundiais de chegarem a um acordo que encurte o percurso que leva a um mundo mais sustentável. Frustração pela nossa incapacidade (afinal, sociedade civil e setor privado, reunidos em diversos eventos paralelos, parecem convencidos do imperativo da sustentabilidade) de convencer os nossos governantes de que chegou a hora de atitudes determinantes, com a adoção de metas e o desembolso de recursos que permitam assegurar que o desenvolvimento sustentável superará a mera retórica.

Os negociadores brasileiros, diga-se de passagem, não deveriam ser crucificados – como vem sendo – pela nova proposta de “rascunho zero” que, na verdade, apenas reflete a lamentável impossibilidade de um acordo. O pior que poderia acontecer, talvez, seria chegar ao final desta Rio+20 sem NENHUM acordo. O texto proposto pouco garante, é verdade. Chega a ser frouxo. Mas, se em vez de pouco, ao final da conferência não tivéssemos NADA, seria um desastre. O texto proposto, ao menos, reafirma alguns princípios caros aqueles que defendem o desenvolvimento sustentável e, se aceito – como parece que foi – pelos líderes mundiais, ao menos contribui para consolidar um discurso que aponta o caminho certo.

O problema é que esse caminho é longo, e já deveríamos, há algum tempo, ter nele avançado muito mais do que foi feito até agora. O  aquecimento global e outras fronteiras ambientais que estamos ultrapassando sem dó não irão esperar que criemos juízo. O fato é que fica claro, pelo caminhar da Rio+20, que o desenvolvimento sustentável não será alcançado rapidamente. Talvez já seja, inclusive, tarde demais. Mas os líderes mundiais parecem não ter pressa...

terça-feira, 19 de junho de 2012

Matéria - Valor Econômico - 17/06/12

Aumenta a influência das ONGs e do setor privado


Por Giselle Paulino | Para o Valor, de São Paulo

No modelo da economia verde, que vislumbra uma sociedade mais justa com uso sustentável dos recursos naturais, entidades privadas e da sociedade civil ganham um papel fundamental. Cerca de 70% da economia global está nas mãos das empresas. Não se pode falar de economia verde sem considerar o setor.

Já as ONGs não têm o poderio econômico das empresas, mas o terceiro setor também se tornou transnacional. O uso da internet e a velocidade nas comunicações possibilitaram a formação de redes para monitorar a ação dos governos que deixam de respeitar os direitos humanos e empresas pouco sustentáveis.

"A sociedade civil se especializou e ganhou mais credibilidade dentro de debates sobre temas da atualidade ", diz Eduardo Matias, sócio da Nogueira, Elias, Laskowiski e Matias Advogados. "Em alguns casos, chega a orientar Estados em negociações internacionais que não teriam tanto conhecimento para agir sozinhos", explica.

Pelo lado empresarial também existem características que podem ser aproveitadas. "As empresas transnacionais possuem dinamismo e criatividade, muito bem vindos neste momento. As empresas também têm grande poder de pressão para moldar políticas públicas, possuem conhecimento sobre os impactos das políticas para suas atividades e têm mais informações do que o próprio governo sobre inúmeras questões", aponta Matias.

Nesse novo contexto, empresas, governo e sociedade civil podem contribuir para o ciclo virtuoso da sustentabilidade. Segundo Matias, é preciso atentar para o fato de que o DNA das empresas não é sustentável. A proporção de investimentos para as energias renováveis continua quase insignificante. "Não há preços adequados para recursos escassos. As empresas maximizam lucros e o custo vai para terceiros, como poluição", afirma.

Em sua visão, provar que existe um business case de sustentabilidade ainda é a melhor forma para seduzir as empresas para fazer parte da economia verde. Os resultados positivos existem. Há vantagens como redução de riscos, ganhos com o controle de desperdícios e melhor gerenciamento dos recursos, além de ganho na reputação do empreendimento.

"Podemos perceber que há vinte anos as empresas entravam para os movimentos de responsabilidade social mas sem internalizar a estratégia na economia", lembra Elizabeth Laville, fundadora e diretora da consultoria Utopies. "Hoje algumas iniciativas que começam a despontar sinalizam que o cenário pode ser diferente nos próximos anos", diz. É o que ela chama de RSE 2.0, ou seja, empresas do movimento de responsabilidade social que mudam seus produtos e serviços.

Segundo Elizabeth, essa tendência acontece a partir de 2010 com a entrada de produtos como o carro verde. Nesta segunda era da RSE, bancos que investiam
apenas em programas de ecoeficiência como reciclagem de papel, computadores com menor gasto de energia, hoje olham para os projetos que estão aplicando dinheiro. "Entre 1995 e 2010 o intuito do movimento de responsabilidade social era engajar as empresas. A partir disso, a ideia de produzir em parceria ganha um dimensão. É claro que sozinhos, os carros verdes não vão fazer diferença para o mundo, mas esta é a tendência", diz.

A dúvida é se casos pontuais são suficientes para mudar a economia. "Certamente a consciência aumentou muito nos últimos anos. Mas não podemos passar os próximos 20 anos falando sobre o mesmo assunto. As empresas precisam agora parar de falar em transparência e processos e focar em formas para medir seus impactos negativos", diz Mag Taylor, conselheira da CAO, entidade independente ligada ao IFC, braço da Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial.

http://www.valor.com.br/rio20/2715358/aumenta-influencia-das-ongs-e-do-setor-privado

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Complicando a Economia Verde

"Não importa o tom de verde da economia, desde que ela cace carbono"

As discussões sobre a Economia Verde estão patinando na Rio+20. Os países não conseguem chegar a um acordo, e o próprio conceito, para agradar a todos, vai se transformando em um monstrengo.

Porém, o fato de que estamos extrapolando todos os limites do planeta não permite mais que fiquemos andando em círculos. Economia verde é aquela que entende que o abuso dos recursos escassos tem um preço para a sociedade, e que age conforme essa compreensão.

E, se entre esses limites, as mudanças climáticas são o mais urgente, economia verde equivale à economia de baixo carbono, com reduzidas emissões de gases de efeito estufa. Esta só irá acontecer com incentivos adequados para a inovação e mecanismos para que esta se espalhe rapidamente. Esse é o foco que não podemos perder. Não importa o tom de verde da economia, desde que ela cace carbono.