terça-feira, 19 de junho de 2012

Matéria - Valor Econômico - 17/06/12

Aumenta a influência das ONGs e do setor privado


Por Giselle Paulino | Para o Valor, de São Paulo

No modelo da economia verde, que vislumbra uma sociedade mais justa com uso sustentável dos recursos naturais, entidades privadas e da sociedade civil ganham um papel fundamental. Cerca de 70% da economia global está nas mãos das empresas. Não se pode falar de economia verde sem considerar o setor.

Já as ONGs não têm o poderio econômico das empresas, mas o terceiro setor também se tornou transnacional. O uso da internet e a velocidade nas comunicações possibilitaram a formação de redes para monitorar a ação dos governos que deixam de respeitar os direitos humanos e empresas pouco sustentáveis.

"A sociedade civil se especializou e ganhou mais credibilidade dentro de debates sobre temas da atualidade ", diz Eduardo Matias, sócio da Nogueira, Elias, Laskowiski e Matias Advogados. "Em alguns casos, chega a orientar Estados em negociações internacionais que não teriam tanto conhecimento para agir sozinhos", explica.

Pelo lado empresarial também existem características que podem ser aproveitadas. "As empresas transnacionais possuem dinamismo e criatividade, muito bem vindos neste momento. As empresas também têm grande poder de pressão para moldar políticas públicas, possuem conhecimento sobre os impactos das políticas para suas atividades e têm mais informações do que o próprio governo sobre inúmeras questões", aponta Matias.

Nesse novo contexto, empresas, governo e sociedade civil podem contribuir para o ciclo virtuoso da sustentabilidade. Segundo Matias, é preciso atentar para o fato de que o DNA das empresas não é sustentável. A proporção de investimentos para as energias renováveis continua quase insignificante. "Não há preços adequados para recursos escassos. As empresas maximizam lucros e o custo vai para terceiros, como poluição", afirma.

Em sua visão, provar que existe um business case de sustentabilidade ainda é a melhor forma para seduzir as empresas para fazer parte da economia verde. Os resultados positivos existem. Há vantagens como redução de riscos, ganhos com o controle de desperdícios e melhor gerenciamento dos recursos, além de ganho na reputação do empreendimento.

"Podemos perceber que há vinte anos as empresas entravam para os movimentos de responsabilidade social mas sem internalizar a estratégia na economia", lembra Elizabeth Laville, fundadora e diretora da consultoria Utopies. "Hoje algumas iniciativas que começam a despontar sinalizam que o cenário pode ser diferente nos próximos anos", diz. É o que ela chama de RSE 2.0, ou seja, empresas do movimento de responsabilidade social que mudam seus produtos e serviços.

Segundo Elizabeth, essa tendência acontece a partir de 2010 com a entrada de produtos como o carro verde. Nesta segunda era da RSE, bancos que investiam
apenas em programas de ecoeficiência como reciclagem de papel, computadores com menor gasto de energia, hoje olham para os projetos que estão aplicando dinheiro. "Entre 1995 e 2010 o intuito do movimento de responsabilidade social era engajar as empresas. A partir disso, a ideia de produzir em parceria ganha um dimensão. É claro que sozinhos, os carros verdes não vão fazer diferença para o mundo, mas esta é a tendência", diz.

A dúvida é se casos pontuais são suficientes para mudar a economia. "Certamente a consciência aumentou muito nos últimos anos. Mas não podemos passar os próximos 20 anos falando sobre o mesmo assunto. As empresas precisam agora parar de falar em transparência e processos e focar em formas para medir seus impactos negativos", diz Mag Taylor, conselheira da CAO, entidade independente ligada ao IFC, braço da Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial.

http://www.valor.com.br/rio20/2715358/aumenta-influencia-das-ongs-e-do-setor-privado